A recorrência da guerra fria

 

Eduardo Ferreira |

 

O assassinato de Boris Nemtsov, ex-vice-primeiro russo e opositor a Vladimir Putin, em Moscovo, perto do Kremlin, veio realçar, de forma brutal, aquilo que todos nós sabíamos: a Rússia não é uma democracia- A execução de adversários políticos nem é uma novidade na era de Putin, apenas não tinha sido morto ninguém com tanto relevo.

 

Aproveito este triste evento para tentar explicar um facto estratégico: Portugal ganha em ser aliado dos Estados Unidos e não da Rússia. Porquê? Em primeiro lugar, por razões geográficas. Convém-nos estarmos aliados à grande potência marítima (os Estados Unidos) que tem condições para controlar o Atlântico e o Pacífico, pois temos importantes interesses além-mar, quer no Atlântico (destaque aqui para o Brasil e para Angola), mas também no Índico, que banha Moçambique, e no Pacífico, onde estão Macau e Timor-Leste.

 

Entre a grande potência marítima (USA) e o grande poder continental (que é a Rússia, pois controla boa parte da Eurásia) convirá sempre escolher a primeira.

 

Mas, para além da geografia, existe outra ordem de razões para termos como aliado preferencial os Estados Unidos. É que dessa forma fazemos parte de um bloco de países democráticos, com separação de poderes, liberdade de opinião, eleições a intervalos regulares, uma justiça que não seja arbitrária, e primado da lei.

 

Segundo alguns autores, a existência de instituições democráticas e judiciais fortes ajuda o crescimento económico. Embora esse ponto seja discutível, é bom estarmos do lado que mais respeita a dignidade humana.

 

Aqui em Portugal, a partir dos 50 anos de idade as pessoas se recordam do que é não poder votar, e não poder exprimir livremente opiniões políticas. São contadores de histórias privilegiados, pois podem dizer aos mais novos como é viver na Rússia de hoje. O que damos por adquirido por aqui, noutros sítios pode ser uma sentença de morte. Não nos interessa termos aliados assim, e felizmente não temos.