Personalidades opinam sobre monitoramento
dos EUA
Da arte ao esporte, as declarações de brasileiros sobre a espionagem americana
Audrey
Furlaneto, Flávio Freire, Leonardo Cazes, Leticia Fernandes, Nice De Paula, Rodrigo Fonseca, Sanny Bertoldo, e Silvio Essinger
Fernando
Henrique Cardoso - Ex-presidente da
República, em sua página no Facebook
“Nunca soube de espionagem da CIA em meu governo,
mesmo porque só poderia saber se ela fosse feita com o conhecimento do próprio governo, o que não foi o caso.
De outro modo, se atividades deste tipo existiram, foram feitas, como
em toda espionagem,
à margem da lei. Acho inadmissível que sem decisão
judicial haja rastreamento
de comunicações entre pessoas
(...). O único episódio relativo a acordos com o governo americano que veio a meu
conhecimento por intermédio do então ministro da Justiça,
Nelson Jobim, referia-se a um entendimento com a DEA, agência americana antidrogas, que existia anteriormente e o ministro pediu minha autorização para cancelá-lo, o que dei imediatamente.
Cabe ao governo
brasileiro, apurada a denúncia, protestar formalmente pela invasão de soberania e impedir que a violação
de direitos ocorra, mesmo que se saiba
que os meios
tecnológicos atuais dotam os Estados
- e também as organizações privadas - de instrumentos de apoderamento de informações que tentam escapar
dos controles legais.”
Jorge
Gerdau - Empresário
“É
um absurdo total que um país como o nosso
esteja sob vigilância, é uma situação insustentável”
Carlos
Langoni - Diretor do Centro
de Economia Mundial da FGV e ex-presidente do Banco Central
“A
tecnologia da informação virou instrumento de poder e a desvantagem dos países emergentes em relação
às superpotências é brutal.
O Brasil é totalmente vulnerável a ataques cibernéticos (...). O problema vai além da
privacidade, vivemos num mundo em que
a tecnologia digital avança
numa velocidade surpreendente, os governos não estão
preparados. E os que detêm essa
tecnologia usam como querem (...). É muito pouco provável
que se possa resolver isso no âmbito de acordos internacionais.”
Torben Grael - Bicampeão olímpico de iatismo
“É
incrível. Se fosse uma empresa, uma pessoa
física fazendo uma coisa dessa,
seria um escândalo gigante. Mas, como
são os EUA,
é diferente. Parece até que existe
uma tendência de encobrir um pouco, principalmente do lado dos países europeus. As pessoas têm que
ter a privacidade respeitada.”
Marcos
Nobre - Filósofo e
professor da Unicamp
“Esse programa de vigilância que atingiu também o Brasil revela uma
disputa política pela internet, no sentido de uma disputa política
pela neutralidade da rede. Há
uma associação muito grande entre as gigantes da internet e o Estado
de tal maneira que é impossível manter a neutralidade. Há também uma
disputa em torno da lógica
da internet entre duas frentes: de um lado, uma lógica do consumo,
em que as empresas de internet podem pagar às pessoas
pelos seus dados, e outra, uma lógica
da solidariedade na rede.”
Beatriz
Milhazes - Pintora
“O
que me assusta no momento é a rota de controle sobre o uso da internet e a possibilidade de conexões via satélite. O sistema digital é vulnerável e isso é assustador, não tenho ideia de como manusear isso
de uma maneira só positiva e evitar
esse tipo de crime.”
Roberto
Cabot - Artista pioneiro no
uso da internet como obra de arte
“Não sou realmente
‘nacionalista’, mas ter nosso tráfego
digital totalmente controlado
por outro país me parece inconveniente. É espetacular ver como sempre
aparecem pessoas íntegras que não
pactuam com esse estado de coisas. Tampouco acredito que temos outra
opção senão a transparência total de tudo e de todos. A privacidade, tal como existiu
até o século XX, acabou. A única defesa contra a transparência do indivíduo será a transparência total das coisas e
das instituições.”
Carlos
Affonso Souza - Professor de Direito
da FGV
“Em termos políticos,
é importante que o Brasil tenha uma
posição firme sobre essa questão.
O nível de reprovação e o grau de repúdio que serão dados pelo governo vão
mostrar qual é a importância e a relevância da privacidade. Esse é um chamado para que todos
os governos percebam que a internet não é só uma
rede de liberdade, ela também pode
ser uma rede de controle.”
Cacá Diegues - Cineasta
“Este
episódio nos expõe também à tragédia contemporânea do controle da vida
de cada um, do fim do direito à privacidade, da submissão de nossa identidade às grandes empresas
do ramo (...). Além da ousadia política
de uma nação se meter na vida da
outra, temos também que pensar
em como garantir
a conquista da liberdade representada pela internet, diante da dependência de seus instrumentos aos interesses de grandes empresas. Pessoalmente, acho que a correta educação
digital não deve ser ensinar nossos jovens a entrar no YouTube, mas ensiná-los a criar alternativas originais ao YouTube.”
Paulo
Skaf - Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
“Qualquer tipo de espionagem é condenável, um abuso, seja contra pessoas físicas ou contra empresas, seja ela cometida
por qualquer governo. A Constituição brasileira garante o direito ao sigilo
das comunicações. O governo
brasileiro pediu satisfações ao governo americano. Temos que fazer
isso mesmo e aguardar as satisfações dos EUA, se é que eles
vão conseguir explicar o que aconteceu. Mas a cobrança brasileira não deve se encerrar
aí, esse assunto tem que ser bem esclarecido.
Não pode ficar bisbilhotando e não ter esclarecimento.
O governo americano vai ter que
fazer algum tipo de reparação.”
Pedro
Serrano - Professor de Direito Constitucional
da PUC-SP
“Não basta manifestar
desagravo. Isso é um ato de agressão, de profundo desrespeito. O estado brasileiro precisa agir com virulência. Se não o fizer, todos os
direitos e garantias dos brasileiros estarão sendo desrespeitados. O Brasil deve convocar
o embaixador em Washington
e denunciar os EUA aos tribunais
internacionais. Se houver agente americano que tenha praticado
espionagem no Brasil, não podemos deixar
ele sair do território nacional. (...). Temos que produzir
uma legislação mais rígida para
os agentes estrangeiros que atuam aqui. A ruptura
de sigilo de comunicação em terra brasileira praticada por estrangeiro
deveria ser imprescritível,
porque demoramos anos para descobrir.”
Camilo Tavares - Diretor
de ‘O dia que durou 21 anos’, sobre a articulação da CIA para derrubar
o presidente João Goulart no golpe de 1964
“Posso afirmar com (base em) documentos recentemente tornados públicos que, pelo menos
desde 1962, os EUA possuem um plano de contingência para o Brasil, o que significa um acervo precioso de informações secretas do governo brasileiro. (...) Isto só pode
ser feito com agentes infiltrados e/ou com sistemas inteligentes de espionagem (...). Estas informações são incluídas em comunicados
de adidos militares — como foi o caso
de Vernon Walters (na época
do Jango). (...) E não tenho dúvida de que ao receber
tecnologia dos EUA (...) acabamos por importar
também estes sistemas de monitoramento.”
Ziraldo - Escritor e cartunista
“A
única coisa que o Brasil deveria
fazer é preocupar-se. É preciso saber quem facilitou a vida para os americanos
aqui no Brasil (...). Fora isso, não
há nada que se possa avançar, eles são muito
poderosos, essa vida virtual a gente não pode e não
sabe dominar. Isso acontece há
muitos anos, na ditadura, eles
tinham total liberdade de fotografar o país e os brasileiros sabiam disso. Vão levar susto agora?”