Petrobras: motivo da espionagem é econômico e estratégico, diz Dilma

 

Segundo documentos vazados por Snowden, a empresa foi espionada por agência dos Estados Unidos. Em nota, a empresa afirmou que seu sistema é protegido

 

A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira (9), por meio de nota, que se as denúncias de que os Estados Unidos usaram aparato de espionagem para obter informações da Petrobras forem confirmadas, ficará claro que as motivações são econômicas e estratégicas. "Se confirmados os fatos veiculados pela imprensa, fica evidenciado que o motivo das tentativas de violação e de espionagem não é a segurança ou combate ao terrorismo, mas interesses econômicos e estratégicos." O texto diz ainda que a Petrobras "sem dúvida" não representa ameaça à segurança de qualquer país, mas sim um dos maiores ativos de petróleo do mundo e um patrimônio do povo brasileiro. 

 

A denúncia de que a Petrobras foi espionada pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, foi feita em reportagem veiculada no Fantástico da TV Globo, na noite de domingo (8). A informação tem por base documentos vazados pelo ex-analista da NSA, Edward Snowden, atualmente exilado na Rússia.

 

Na nota, a presidente Dilma diz ainda que o governo brasileiro está empenhado em obter esclarecimentos do governo norte-americano sobre todas as violações "eventualmente praticadas", além de "exigir medidas concretas que afastem em definitivo a possibilidade de espionagem ofensiva aos direitos humanos, à nossa soberania e aos nossos interesses econômicos".

 

Dilma afirma que tentativas de violação e espionagem não são compatíveis com a convivência democrática entre países amigos. "De nossa parte, tomaremos todas as medidas para proteger o país, o governo e suas empresas."

 

De acordo com a reportagem, apresentação da própria NSA, usada em treinamento de novos agentes, mostra que a agência espiona redes privadas de computador, como a da Petrobras. O nome da companhia brasileira surge logo no início da apresentação. Além da companhia, aparecem listados como alvos o Google, a diplomacia francesa e a rede Swift, que regula transações financeiras internacionais. Pelo documento vazado não é possível determinar quanto tempo a Petrobras vem sendo espionada e nem mesmo que tipo de informações foram acessadas pela NSA.

 

A empresa brasileira também se pronunciou hoje sobre o caso. Em nota, diz que seu sistema é "altamente qualificado" e permanentemente atualizado para proteger sua rede interna de computadores (RIC). "A companhia executa, de forma consistente, todos os procedimentos identificados e reconhecidos como melhores práticas de mercado na proteção de sua rede interna e de seus dados e informações. O trafego na RIC e o fluxo de dados entre a RIC e o ambiente externo (rede mundial de computadores) são monitorados permanentemente pela Petrobras", diz o texto.

 

A companhia também afirma que seus funcionários são capacitados para uso adequado dos sistemas informatizados. "As informações internas são classificadas e tratadas com soluções tecnológicas, como criptografia, adequadas aos níveis de proteção associados ao risco de prejuízos para a Petrobras, em caso de eventual vazamento de informação."

 

À Rede Globo, a NSA negou o roubo de informações de companhias estrangeiras. A agência americana afirmou que não espiona companhias para obtenção de vantagens econômicas a empresas americanas. A entidade afirmou que monitoramentos de empresas são usados para acesso a informações importantes sobre possíveis crises econômicas.

Dilma espionada

 

A denúncia de espionagem à Petrobras surge uma semana após o Fantástico veicular reportagem mostrando que a presidente Dilma Rousseff e seus principais assessores foram monitorados pela NSA. Documentos secretos revelam que conversas telefônicas, e-mails e a rede de comunicação de Dilma foram interceptados pela NSA.

 

A revelação gerou uma crise diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos. Durante a última semana, o Brasil pediu explicações a representantes americanos e a presidente Dilma Rousseff cancelou o envio de uma equipe aos EUA, que prepararia sua visita de outubro ao país. O cancelamento da visita da equipe, no entanto, não significa que a presidente desistiu de viajar aos EUA.

 

Além disso, durante reunião do G-20 em São Petersburgo, na Rússia, Dilma afirmou na sexta-feira que o Brasil quer saber "tudo o que " sobre o país nos serviços de espionagem dos EUA. O presidente americano, Barack Obama, após ter conversado com Dilma, afirmou que buscaria informações sobre as acusações contra a NSA. Obama afirmou ainda que levava a sério as alegações de espionagem contra o Brasil e o México – outro país envolvido nos monitoramentos.

 

As denúncias de espionagem 

 

Nos últimos meses, o ex-técnico americano Edward Snowden, que trabalhou para a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês), tornou público que o governo americano havia desenvolvido o maior programa de monitoramento em massa de comunicações de que se tem conhecimento no mundo.

 

Com a colaboração do jornalista americano Glenn Greenwald, a quem Snowden repassou os documentos sigilosos, no final de julho, ÉPOCA revelou com exclusividade arquivos que mostram que a NSA espionou oito membros do Conselho de Segurança da ONU, no caso das sanções contra o Irã, em 2010.

 

Em seguida, ÉPOCA teve acesso a uma carta ultrassecreta em que o embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon Jr., agradece o diretor da NSA, general Keith Alexander, pelasexcepcionaisinformações obtidas numa ação de vigilância de outros países do continente, antes e depois daCúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, em abril de 2009.

 

Shannon celebra, no documento, como o trabalho da NSA permitiu que os EUA tivessem conhecimento do que fariam na reunião os representantes de outros países. Em entrevista a ÉPOCA, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que manter dados em segredo faz parte do jogo diplomático, mas que a espionagem em negociações pode configurar uma forma de fraudá-las. "Estamos diante de um escândalo de proporções globais."